sábado, 19 de setembro de 2009

Novo restaurante, Kendo e "english corner"

Desde que eu cheguei aqui eu tenho feito a maior parte das minhas refeições no restaurante do meu alojamento. Como o alojamento é para estrangeiros, há um cardápio em inglês e chinês, e o preço é bem bom. Porém, agluns dias atrás o Daisuke (meu colega de quarto japonês) me levou a um restaurante perto do portão leste. A comida lá também é muito boa e os preços são bem melhores, o único porém é que o cardápio é todo em chinês. Pesando o preço versus cadápio em chinês adivinhem o que conta mais para mim. Preço né! Vocês sabem que eu sou pão duro! Na segunda vez que eu fui lá levei lápis e caneta. Pedi um prato que eu consegui identificar e pronunciar e durante a refeição começei a anotar os nomes dos pratos que eu não conhecia. Fui para o quarto depois e procurei todos nos meus dicionários. Olhem só o que faz o pão-durismo: aumentei bastante meu vocabulário relativo a comida e estou gastando bem menos para comer. Gasto menos e ainda aprendo mais, acho que foi um bom negócio, hehe.

Mas eis que saindo deste restaurante na quinta a noite e passo em frente a um ginásio da universidade e ouço uns gritos. Ao entrar para verificar o que era descubro uma aula de Kendo! O Kendo é a arte marcial que lida com a Katana, a espada dos samurais. Óbviamente não se utilizam espadas de verdade, mas sim de bambu. A aula era toda em japonês e aparentemente para os alunos japoneses da universidade, então não consegui entender nada, mas fiquei até o fim observando tudo. Eles utilizam uma proteção um pouco semelhante à esgrima, com proteção para o tronco, genitais, mãos e rosto. Os movimentos são extremamente rápidos e os golpes são acompanhados de vários gritos. Havia mulheres e homens lutando junto. Eu já havia visto sobre o Kendo na TV e já havia lido a respeito, mas é impressionante de ver ao vivo. Os movimentos de alguns caras são realmente rápidos, com mais de um golpe sendo desferido em um único movimento e acertando o adversário em diferentes pontos do corpo.

Por fim, gostaria de narrar o ocorrido na minha noite de sexta-feira. Na universidade, todas as sextas-feiras a partir das 19:00 vários chineses se reunem na praça frontal da universidade para treinarem inglês. Isso mesmo, é um monte de chinês reunido em um local falando inglês, o chamado "english corner". Passei ali por curiosidade após a janta, cerca de 21:00, e vi como se formavam vários grupos em torno de estrangeiros. Normalmente havia um estrangeiro falando e vário chineses fazendo perguntas. Eu estava observando e em seguida vi um conhecido aqui da universidade, o Adrian dos EUA. Comecei a conversar com ele e de repente nós estavamos cercado por cerca de 10 chineses, todos ouvindo nossa conversa! Em seguida começaram a puxar papo e quando percebi eu era o centro de um destes grupos que eu recém mencionei. Perguntavam de onde eu era, o que fazia na universidade, o que eu achava da China, como era o Brasil, etc. Acabei ficando ali até a meia-noite, sempre cercado de chineses! Saiam 2 chineses do grupo e em seguida chegavam mais 3, "You are from Brazil?", e lá ia eu de novo responder as mesmas perguntas de novo.

É muito interessante esta iniciativa. O inglês dos chineses é muito ruim, nào há como comparar com o dos brasileiros. Aprender inglês para os chineses é muuuuuuuito mais difícil do que para nós. O português e o inglês, assim como o latim, o italiano, o francês, o alemão e outras línguas européias, pertencem à mesma família liguística, o indo-europeu, compartilhando diversas características. Já o chinês pertence a uma família liguística completamente diferente. Eles tem que aprender a pronúnciar e ouvir sons completamente desconhecidos, aprender uma gramática completamente estranha, etc. Então este tipo de iniciativa é realmente legal. Dá para ver não só que eles estão realmente se esforçando para falar inglês, mas também para aprender sobre os países dos outros.

Me perguntaram sobre o Lula, sobre os jogadores de futebol, sobre as mulheres no Brasil, sobre a Vale do Rio Doce (maior exportadora de minério de ferro para a China, pelo que um chinês me disse), ou melhor, "Fresh Water Valey" (demorei para reconhecer o nome em inglês). Perguntaram se eu achava que a China era realmente comunista, como é a política no Brasil, porque eu estudava a China, como são as relações étnicas no Brasil, enfim, tudo! Como eu disse que estudava a história chinesa eles resolveram me testar, pedindo para eu dizer as dinastias chinesas em ordem. Acertei, mas eles corrigiram minha pronúncia, hehehe. Eles ficaram bastante impressionados em saber que poderiam passar tranquilamente por brasileiros no Brasil, desde que não abrissem a boca (aqui na China sempre é óbvio quando alguém é estrangeiro). A maioria deles achava que no Brasil se fala espanhol, mas pelo menos não perguntaram se a capital é Buenos Aires. Eu gostei mesmo foi de uma cara mais velho que só falava mal do partido comunista. Ele reclamava da falta de liberdade, acusava os políticos de corruptos, citando as suas falcatruas acusava a TV que só falava bem deles e o partido de ter destruído a cultura tradicional chinesa. Muitos concordavam com ele, mas um cara falou que era bom ter um partido só (!!!), ai ele se enfureceu! Começou a gritar em chinês e depois falou para mim em inglês "O que essa juventude tem na cabeça??? Que tipo de educação recebem para pensar esse tipo de coisa??". Foi realmente interessante ver os chineses falando abertamente de política, xingando o partido em público, etc. O regime não é tão fechado quanto muitos nos querem fazer acreditar, ninguém ali estava com medo de ser preso por falar o que estava falando. Ainda tenho muito o que aprender sobre a política chinesa, e acho que essa foi minha primeira aula. Talvez eu apareça no "English Corner" novamente para aprender um pouco sobre a China, o problema é ficar falando em inglês e não treinar o chinês, mas é só de vez em quando mesmo.

6 comentários:

  1. Poga! Que afuder isso! Diz pra eles que dá pra vender pastel em SP numa boa que não dá nada! Te cuida pra não ser preso aí, depois tem que pedir pra extraditar e deve dar um trabalhão... Boa sorte ae pão durinho do meu coração!

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  2. Uau!!! Lembrando que é tão difícil eles aprenderem inglês qt é pra ti aprender chinês, o que estás fazendo é mágico tanto qt. E falaste da brasileira mais linda?? A Aline Moraes? Bj cara de concha!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Daniel! Puta que me pariu! Anotar o nomes em papel e depois traduzir! Caraca! Pão duro é apelido pra ti! Tem que por uma nova descrição no dicionário: Mais do que pão-duro = Daniel Anana!!
    hahahahahahah!!!
    Conta pra gente dassobremesas aí, ou é tudo agridoce e só!
    Guri, te cuida! Te tanta pimenta tu vai ter um churriu!!! hahahahaha!
    Wow! Essa deve ter sido uma experiência e tanto, falar com diferentes chineses sobre o Brasile ouvi-los falar da China! Muito legal essa English Corner!

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  5. Eaí rapaz!

    Muito boa esta idéia de utilizar o nome dos pratos para aprender chinês! Tô lendo um mangá aqui "Gourmet" do Jiro Taniguchi (teu colega de quarto deve conhecer) que é sobre culinária. Tava pensando em pegar o nihongo aqui de novo, a partir das receitas deste mangá. Mas, gostei da tua idéia! Vamos ver se com o japonês dá certo...

    Abraço e te cuida!

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  6. Cara, que fantástico esse post! Fiquei uns dias sem aparecer, mas cá estou de volta. É incrível como a tua pão-durice sempre se supera, hehehehe. Sério, o relato do teu contato com os chineses foi muito bom, parecia que eu estava do teu lado presenciando a cena!

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