segunda-feira, 14 de junho de 2010

Arroz e feijão

Encontrei feijão preto no Carrefour aqui perto da universidade! Sabia que dava para comprar o nosso feijão aqui porque comi feijão no restaurante brasileiro, só não sabia que seria tão fácil e barato comprar. Preparei com pimentão, cebola, alho e carne seca. Quando eu estava preparando dava para sentir no corredor aquele cheiro de feijão sendo cozinho, cheiro de segunda feira de manhã em casa! E ficou bem bom, comi com o arroz branco empassocado daqui. O único problema é que a carne seca daqui é meio adocicada, o que deixou um gosto meio estranho. Usar linguiça nem pensar, já que as daqui todas são bem doces. Na próxima devo fazer sem carne. A outra alternativa é eu comprar carne fresca e salgar eu mesmo, mas preparar onde? Deixar o quarto cheirando a carne não dá. E no corredor é capaz de roubarem, hehe.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fim do jejum

Lá se vão 4 meses desde a última vez que postei... Não sei exatamente o que aconteceu, preguiça, indisposição, estudos em demasia ou sei lá, fato é que não atualizo isso faz um baita tempo. Simplesmente não dá vontade de escrever. Sei que não é legal manter os interessados aí do Brasil desinformados, foi mal. Não vou mais prometer atualizar com alguma frequência decente porque não sei se cumpro, mas saibam que mesmo não postando nada eu não esqueci o blog, sempre me bate o remorso por não escrever nada. Mas, vamos aproveitar que hoje eu estou inspirado para tentar relatar um pouco do que aconteceu por essas bandas desse fevereiro.

Finalmente sai de Beijing! Para aqueles que não sabem, desde que cheguei aqui não sai da cidade (com exceção duma vilinha a uns 70 km daqui). Como vou ficar um total de 5 anos por aqui, não estou com muita pressa de sair viajando para todo o lado (ao contrário da maioria dos meus colegas que só ficam 1 ano). Mas aos poucos vou começando a sair um pouco. A primeira viagem que realizei foi a Datong 大同, uma cidade não muito longe daqui. Eu e mais quatro amigas aproveitamos o feriadão entre 3 e 5 de abril e fomos visitar essas cidade não muito longe de Beijing (6 horas de trem). A cidade em si é feia, poeirenta e cheia de prédios demolidos, mas no seu entorno se localizam o Mosteiro Pendurado 悬空寺 e as Grutas Yungang 云冈石窟, que valem pela viagem inteira. O primeiro é um mosteiro construído em uma face de uma montanha, literalmente encravado na pedra a uns 100 metros do solo, muito legal. O segundo é um conjunto de dezenas de grutas que forma sendo escavadas ao longo de vários séculos contendo centenas de imagens budistas, lindo demais. Apesar da aridez, a cidade ainda reserva alguns pontos interessantes, como o Muro dos Noves Dragões 九龙壁, dois templos grandes cujo nome esqueci. As fotos já estão no Orkut a algum tempo. Pontos altos da viagem:
- Primeira vez que andei de trem na China, o método mais comum de viagem por aqui. Fizemos uma viagem noturna, com cama e tudo. Apesar de razoavelmente confortável não preguei o olho
- Ficamos em um hotel mega estranho, onde para se entrar na parte dos quartos tem que se passar por dentro dos banheiros antes. Detalhe: os chuveiros são compartilhados e dá para vê-los quando se vai para os quartos! Lógico que a entrada dos homens é diferente das mulheres! De qualquer forma tive que tomar banho da frente dos chineses, sorte que como fui tomar banho bem tarde tinham poucos, e não ficaram me encarando (eu acho).
- Ao ir para o templo pegamos um táxi. Ao chegar lá abrimos a porta para sair e veio outro carro e raspou a lateral inteira na nossa porta. Após mais de meia hora de discussão (onde argumentamos que não pagaríamos nada porque não fomos nós que resolvemos parar o maldito táxi no meio do caminho!), a vinda dos puliça e a ida dos puliça que sequer olharam para nós, concluímos que os puliça também achavam que a responsabilidade não era nossa e fomos de mansinho (mas bem rápido) para a entrada do templo. Após uns 20 minutos de subida até o templo vimos que os carros envolvidos no acidente finalmente foram embora e pudemos aproveitar o templo sem o medo de sermos recebidos na volta por uns motoristas furiosos, hehehe.
- Ao darmos uma visitada em um parque em frente a um dos templos da cidade paramos um pouco para descansar e em menos de 5 minutos estávamos cercados por uma multidão de pessoas perguntando de onde nós éramos e elogiando nosso chinês. Um velho achou que eu era da União Soviética! (ele não disse Rússia não).

Bueno minha segunda viagem foi uma organizada pelo escritório responsável pelos estudantes estrangeiros aqui da universidade, para a montanha Taishan 泰山 e cidade de Qingdao 青岛 entre os dias 27 e 29 de abril. Por ser uma excursão bem planejada, dessa vez não ocorreram imprevistos tais como acidentes automobilísticos, hehe. No primeiro dia subimos o Taishan, uma das cinco montanhas daoístas sagradas da China. Está certo que o ônibus nos levou até cerca de 1 km de altura, mas ainda tivemos que escalar quase 2 km a pé até o topo. Não preciso nem dizer que cansa pra caramba. O mais impressionante é ver velhos com mais de 60 anos subindo e descendo carregando mercadorias para vender no topo, e eles fazem isso todos os dias! No caminho há várias vistas e templos lindos, vale a pena o esforço. Por ser um lugar sagrado, há vários grupos de pessoas que vem para peregrinações mesmo. Sobem a montanha, acendem incensos, fazem suas orações e depois descem tudo de novo; logo após chegarmos ao templo principal vimos um desses grupos.
No fim deste dia fomos até a cidade costeira de Qingdao, e lá passamos os próximos dois dias. Qingdao é uma cidade que foi ocupada pelos alemães no período em que as potências imperialistas estavam todas dividindo a China entre si, por isso as influências alemãs estão por toda a parte. Cito para inicio de conversa a cervejaria Qingdao, hoje a maior da China, que foi fundada aqui pelos alemães. Aqui além da praia visitamos ainda o museu da cerveja, a montanha Laoshan 崂山 e demos uma volta de barco. A cidade é bem bonita, mas estranha por parecer demais com cidades européias.

Bueno, fora estas duas viagens ainda aconteceram coisas interessantes aqui em Beijing mesmo. A notícia mais bombástica é que após um feliz relacionamento de 8 anos eu e a Bruna decidimos nos separar. Quem me conhece sabe que eu nunca fui de falar sobre o meu relacionamento com a Bruna, então não vou ficar aqui explicando o que aconteceu. Só posso dizer que não houve briga, que ainda somos bons amigos e que seguimos nos comunicando. Agradeceria a todos se não ficarem enchendo os ouvidos dela de perguntas sobre isso ;) E como a vida continua, estou de namorada nova. Para os curiosos de plantão, ela se chama Chi, é do Vietnã, tem 21 anos e está no segundo ano da graduação em Relações Internacionais aqui na universidade. Como eu ainda não pretendo ficar falando dos meus relacionamentos, paro por aqui. Como eu estou de bom humor pelo menos pus fotos no kutkut satisfazer a curiosidade de vocês, hehehe.

Agora às demais notícias: uma delas é que eu não estou mais na banda Siren. Foi bom voltar a tocar em uma banda depois de quase 5 anos longe dos palcos, mas realmente tocar contrabaixo já não é uma das minhas paixões (já ouvir metal é oooouuutra coisa). Após umas 4 apresentações aqui cheguei à conclusão de que não queria continuar e informei a banda. Como já havia um show agendado para o dia 9 de maio eu ensaiei até este dia, tocamos e é isso. O pessoal já encontrou um baixista novo e de vez em quando nos encontramos por acaso no campus e batemos papo. Um dos fatores que me levou a sair da também foi que além dos estudos e da banda eu também passei a me ocupar com o Rugby, então resolvi abandonar a banda para me dedicar ao esporte que realmente me empolga. E este é o próximo ponto...

Beijing possui 4 times de Rugby, 3 formados na maioria por estrangeiros e um exclusivo de alunos (chineses) de uma universidade daqui. Cheguei a treinar com o maior time daqui uma vez, o Beijing Devils, mas para chegar até o local de treino levo uma hora e meia entre metrô e ônibus. Por outro lado, a 30 minutos de ônibus ou bicicleta da minha universidade treina um time formado quase que totalmente por gente vinda das Ilhas do Pacífico! Para quem não sabe, no nordeste e leste da Austrália existem milhares de pequenas e grandes (na maioria muito pequenas) ilhas que formam mais de uma dezena de países independentes. Assim como o Brasil com o futebol, vários destes países se destacam pela qualidade dos jogadores de Rugby que exportam para jogar em diversos países mais ricos. A criançada em vários desses países cresce jogando Rugby desde pequeno, com paus e cocos quando as condições não permitem a compra de uma bola de verdade, e quando crescem vão jogar na Austrália, Nova Zelândia ou Europa. Vários dos caras que jogam no meu time só começaram a jogar com bolas de verdade quando entraram para o time do colégio. Bom, fora eu, um escocês e um congolês, o resto do time todo é formado por gente de Tonga, Papua Nova Guiné, Fiji, Samoa e Vanuatu. É um clima bem diferente dos outro 2 times formados na maioria por europeus e australianos. O pessoal das ilhas lembra muito mais os brasileiros do que os brancos e frios europeus: o bronzeado, o senso de humor, a humildade, a irritante falta de compromisso com horários... Mesmo achando o time bagunçado demais em relação aos treinos, não troco de jeito nenhum pelos mais organizados. Aliás, mesmo treinando mal o nosso time está em primeiro na copa de Beijing: os caras têm o negócio no sangue! Resta a mim e aos outros não “islanders” tentar ficar tão bom quantos eles (acho ruim de isso acontecer!). Ah, pro pessoal do Antiqua: estou jogando de segunda linha, número 4! Achei minha vocação, nunca mais volto a jogar com os magros!

Também fui de novo à churrascaria brasileira aqui, aquela com os garçons pilchados. Gastei em uma janta o dinheiro de quase uma semana comendo aqui na universidade, mas comi churraaaaaaascoooo! Com gosto de churraaaaaaascoooooo! Após 4 meses quebrei meu jejum de comida brasileira e comi picanha, cupim, costela e vazio bem assados, além de arroz e feijão, pão de queijo e polenta!!!! Levei junto mais um brasileiro/canadense, a Chi, o casal de finlandeses, a letã, uma neo-zeolandesa e dois japoneses. No restaurante tem uma banda brasileira a quem eu contei que no nosso grupo tinha um japonês que tocava bossa nova, o Taka. Não deu outra, o Taka foi chamado no palco, tocou “Garota de Ipanema” no violão com o resto da banda e ainda ganhou beijo da vocalista. No fim eu sai mal conseguindo caminhar de tanta carne que comi (os garçons nem perguntavam mais se eu queria uma fatia das carnes, simplesmente largavam os pedaços inteiros no meu prato), o finlandês saiu como um novo conceito do que seja carne assada, o Taka querendo voltar o mais breve possível e o resto todo com uma ótima impressão da comida brasileira (fiz todo mundo experimentar arroz com feijão e eles gostaram bastante também).

Hmmm, e o que mais? Os estudos em chinês vão muito bem, estou falando com fluência e finalmente estou começando a ler textos sem consultar o dicionário a cada 15 segundos. Estou confiante que com mais um ano de estudos vou ter um nível suficiente para começar o mestrado.

- Finalmente tenho uma bicicleta! O finlandês vai embora em menos de 1 mês e resolveu me dar a que ele comprou, yeeeesssss! Sempre que possível agora ando de bicicleta. Para ir aos treinos do time é ainda mais rápido que ir de ônibus. A maioria das ruas de Beijing tem ciclovias, e mesmo sendo o trânsito nelas tão caótico quando nas vias dos carros ainda prefiro muito mais a andar de ônibus ou metrô.

- Após uma primavera curtinha começou o verão já, com as temperaturas já alcançando os 30 graus. Não quero nem imaginar como vai ser em julho e agosto!

- Ainda estou planejando o que fazer nas férias. Nas primeiras 2 semanas vou participar de um curso de verão em uma cidade próxima a Shanghai. Após isso provavelmente vou passar alguns dias por ali e em algumas cidades próximas. Fora isso ainda estou analisando a possibilidade de visitar o Vietnã (com hospedagem, comida e guia turístico gratuitos, Yes!) e assistir um festival mongol tradicional na província da Mongólia interior, mas ainda não sei direito.

Acho que por hoje é isto então, vamos ver se daqui para frente eu atualizo com alguma frequência isso aqui (quem sabe?). As fotos estão no kutkut. Assim que eu tomar vergonha na cara e comprar uma máquina fotográfica começo a por mais fotos. Té!