quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vietnã - parte 1/5 (Hanói 1)

De volta a Beijing, depois de quase três semanas de banda lá naquele paizinho pequeno em forma de S lá no sul chamado Vietnã. A viagem foi longa, muito boa e enriquecedora, o que significa muito texto! Então vamos lá...

Antes de entrar no país tive, é óbvio, que primeiro chegar lá, o que por si só não é pouca coisa. Como eu sou muito pão duro, resolvi viajar do modo mais barato, o que significa enfrentar muuuuitas horas de trem. De Beijing até Nanning (南宁) foram 28 horas dentro do trem, que na verdade foi muito confortável. Comprei uma passagem de leito, o que significa que, além de poder dormir decentemente durante a noite, eu ainda pude ir boa parte da viagem deitado ou sentado lendo. Estando bem abastecido de macarrão instantâneo e comida enlatada e tendo com o que se ocupar a viagem passa bem rápido. Passei a noite em um hostel em Nanning e peguei o ônibus que cruza a fronteira até Hanoi de manhã cedo. Ai foram mais umas 8 horas de viagem e burocracia na alfândega até a chegada. No total uns 3 mil quilômetros desde Beijing. A Chi estava me esperando de moto, ai veio a minha primeira e mais profunda impressão do Vietnã, MOTOS!

E eu que pensava que o trânsito de Beijing é caótico. Aquilo é fichinha comparado com Hanói! O meio de transporte mais básico no Vietnã são as scooters, maioria esmagadora no trânsito. É uma de gente cruzando na frente dos outros, buzinas para avisar que se está dobrando, gente indo na contramão para evitar fazer uma volta muito longa... Como se dobra à esquerda em uma via de mão dupla? Vai indo devagarzinho e buzinando feito um louco para que os que vêm no fluxo contrário desviem de ti oras! Como se cruza a pé um tráfego desses? Vai caminhando devagarzinho e prestando muuuuuuita atenção e aos poucos o fluxo vai desviando de ti, ao mesmo tempo em que tu vai sendo alvo de diversas buzinadas. É uma loucura! E minha primeira experiência disso foi no banco de trás de um desses veículos loucos, com uma motorista que conhece bem o ambiente e que, portanto, tem muita prática em buzinar e zigue-zaguear feito uma louca.

Durante o passeio, quando eu consegui vencer o medo do tráfego e olhar para o entorno, me veio a segunda grande impressão do Vietnã (ok, essa é mais específica de Hanói mesmo): a arquitetura. Casas coloridas coladas umas às outras, com a frente bem estreita, muitos andares de altura, com características claramente européias. A frente estreita, cerca de 5 metros, é porque antigamente o imposto residencial era cobrado baseado no tamanho da frente da casa, assim o pessoal tinha que afinar a casa para pagar menos. Mas como a unidade familiar, não só no Vietnã como em diversos outros países da Ásia, consiste em várias gerações da mesma família morando debaixo do mesmo teto, a casa tem que crescer para algum lugar. Desta forma, não são incomuns casas com 5 ou mais andares. Além disso, as décadas de ocupação francesa deixaram sua marca na frente das casas, onde mesmo um leigo como eu pode reparar nas características européias das sacadas, janelas, ornamentos, etc. Aliás, só a frente das casas é pintada, já que o dinheiro não é a coisa que mais abunda em Hanói. E também porque a probabilidade de que seja erguida outra casa igualmente alta à tua e colada à tua parede linda é bastante grande.

No fim do passeio veio a minha terceira grande impressão do Vietnã de Hanói: as vielas. Ao sair das ruas principais para chegar até as residências deve-se penetrar em um labirinto de ruelas que vão afinando a cada esquina, até que não é possível mais entrar de carro. Daí o porquê de tantas motos, senão só de bicicleta ou a pé para boa parte da população da cidade chegar em casa. Agora imaginem que ladeando estas vielas que as vezes tem menos de 4 metros de comprimento estejam as frentes das casas estreitas de mais de 3 andares que eu acabei de descrever no parágrafo acima. Como as sacadas avançam sobre as entradas das casas, uma criatura que vá se espreguiçar na sacada após levantar da cama pode bem dar de cara com o vizinho fumando um cigarro na sacada oposta a 2 metros de distância ou menos! É nestas vielas que vive boa parte da população de Hanói, pobres e não tão pobres assim. Um templo aqui e ali quebrando a monotonia das casas; ciclistas anunciando serviços diversos com caixas de som penduradas nas bicicletas; redes de fios elétricos que parecem um emaranhado de “gatos”; velhinhas usando o famoso chapéu cônico de palha equilibrando seus produtos à venda em cestas penduradas nas pontas de uma vara de bambu apoiada nos ombros; motociclistas buzinando para os pedestres darem passagem; banquinhas vendendo suco ou sopa de macarrão. Isto é Hanói! Em breve mais...

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