Bom, após Hangzhou fui-me para a última cidade no meu roteiro das férias no sul da China antes de voltar a Beijng, Nanjing (南京), capital da China por muitos séculos antes de Beijing tomar o seu posto. Passei 6 dias lá e para mim foi a cidade mais interessante das três que eu visitei. Um dos motivos foi que pela primeira vez eu estava completamente sozinho, para visitar tudo, comprar passagens, viajar, reservar hotel, etc. Mas o principal motivo foi a relevância histórica do local porra! Não apenas a cidade foi capital por mais tempo que Beijing como mesmo depois de perder seu status foi palco de eventos importantíssimos nos séculos 19 e 20.
Para começar, a cidade ainda preserva dois terços de sua muralha. Enquanto pouco menos de um século de guerras e revoluções conseguiram arrasar com quase toda a muralha de Beijng, em Nanjing ainda é possível ver a maior parte da maior muralha cercando uma cidade já construída no mundo. Segundo o Museu da Muralha de Nanjing, a segunda maior é (era) a de Paris e a terceira é (era) a de Beijng. Está certo que existem cidades na China que ainda possuem a muralha inteira, como Xi`an (西安), mas não tão imponente como aqui. Além do mais, ainda é possível ver vários dos portões. A rua que corta a cidade e leva até o portão mais meridional da cidade, o Zhonghuamen (中华门), secciona-se logo a sua frente e atravessa a muralha através de 2 portões novos construídos à esquerda e à direita do mesmo (Zhonghua Leste e Zhonghua Oeste), de forma que o portão foi transformado em um espécie de parque/museu. Lá é possível ver como o portão (assim como vários outros de Nanjing) possui na verdade 4 portões. Caso o inimigo consiga passar pelo primeiro ainda tem que atravessar mais três até conseguir entrar na cidade, enquanto isso dê-lhe flecha de cima do muro!
A nordeste da cidade fica a Montanha Roxo-Dourado (紫金山), onde se localizam nada menos que três dos maiores atrativos da cidade. Mais a leste fica o Templo do Vale do Espírito (灵谷寺), construído em homenagem ao monge Xuanzang (玄奘), que inspirou o romance que eu estudei na monografia, o Viagem ao Ocidente (西游记), hehe. No centro fica o Mausoléu do Sun Yatsen (Sunzhongshan em mandarim 孙中山), o "pai" da república chinesa. O cara foi o principal líder do movimento revolucionário que derrubou o regime imperial chinês em 1911 e instaurou a república na China, e tanto o Partido Comunista quanto o Guomindang, que se engalfinharam até a vitória do primeiro em 1949, concordam com a importância dele. Já na parte mais ocidental da montanha fica um enorme tumba imperial da dinastia Ming construída no século 14.
Mas para mim o ponto alto da visita a Nanjing foi o Memorial do Massacre de Nanjing. Em 1937 o exército japonês, que já havia invadido a Manchúria em 1931, invadiu Nanjing com ordens de não fazer prisioneiros, de modo a causar um impacto psicológico tão grande nos chineses que abalasse completamente sua moral e destruísse completamente sua capacidade de defesa. A cidade ofereceu pouca resistência, e após sua conquista seguiu-se um período de mais de 1 mês em que se consumou o chamado "Estupro de Nanijing". As estimativas são de que 300 mil pessoas tenham sido mortas nesse período, entre soldados, mulheres, crianças, velhos, etc. Isso sem contar todas as demais atrocidades cometidas, como os estupros em massa, decapitações e enterramentos com as vítimas ainda vivas. O memorial é repleto de materiais e informações documentando o que se passou, e após quase 3 horas ali dentro sai me sentindo muito mal com o que o ser humano é capaz de fazer... Alguns destaques meus:
- Ficou famosa na época no Japão a competição entre 2 oficiais para ver quem cortava 100 cabeças primeiro. Quando o placar chegou a 106 x 104 eles não conseguiram decidir quem chegou primeiro, então resolveram ir até 150. É possível no memorial ver as fotos dos dois posando com as espadas em frente às cabeças tiradas para um jornal.
- Após um certo tempo os japoneses se deram conta de que os estupros estavam fora de controle e criaram "bordéis" pela cidade para satisfazer a soldadesca. As mulheres ali eram vítimas que já haviam sido estupradas antes e agora eram forçadas a ficar presas nesses locais servindo os soldados o dia inteiro...
- Há uma seção do memorial dedicada a homenagear os estrangeiros que viviam na cidade na época e criaram uma zona internacional desmilitarizada para proteger os civis, que acabou salvando cerca de 200 mil chineses. O principal homenageado é o alemão John Rabe, diretor da Siemens na China e (ironias do destino) membro do partido nazista. Mesmo antes da criação da zona internacional ele abriu sua fábrica para abrigar refugiados que foram salvos devido às bandeiras nazistas ali presentes, já que a Alemanha nazista era aliada do Japão. Quem diria que o local mais seguro durante o massacre era justamente embaixo da suástica nazista... Depois de voltar para Alemanha o cara foi acusado pelos nazistas de colaborar com os chineses, após a segunda guerra pelos aliados de ser nazista... Morreu pobre e esquecido e só depois de muitos anos foi descoberto o diário em que ele narra o ocorrido em Nanjing, que posteriormente foi publicado e mais recentemente virou filme (recomendadíssimo, vai ai um link para o trailer: http://mais.uol.com.br/view/a56q6zv70hwb/trailer-do-filme-john-rabe-04023564D0B93366?types=A&)
- Até onde eu sei, o governo japonês nunca reconheceu totalmente o massacre, e nas escolas japonesas passa-se reto por esse assunto (assim como aqui tem gente que nunca ouviu falar no massacre de Tian`anmen). Assim como em relação aos campos de concentração nazistas, existem os revisionistas japoneses que se especializaram em negar as atrocidades cometidas pelo Japão durante a invasão da China, que incluem além do massacre de Nanjing os laboratórios montados na Manchúria que testavam armas biológicas em prisioneiros chineses.
- Por fim, só quero expressar sensação de desamparo que eu senti após o memorial. O triste é perceber após alguma reflexão que não são os japoneses as criaturas capazes de tantos atos de barbárie, mas sim o ser humano como um todo. Quantos massacres não ocorreram antes deste realizados pelas mais diferentes civilizações pelos motivos mais bestas possíveis. E o holocausto judeu que viria logo depois, ou, para dar um exemplo mais próximo, o grau de sofisticação que atingiram os torturadores das ditaduras na América Latina na segunda metade do séc. 20 nas técnicas de inflingir o máximo de dor possível em outros seres humanos, técnicas estas exportadas e utilizadas mais recentemente pelos EUA no Iraque e Afeganistão. Eu sei que soo (sem crase né?) pessimista, mas o ser humano é o único animal na natureza capaz de cometer estas atrocidades, e parece que não está disposto a para tão cedo. Não importa o quão baixo o ser humano possa chegar, ele (nós?) sempre conseguimos descer mais um pouco...
No último dia em Nanjing visitei o cemitério dos mártires, um museu construído em uma montanha onde foram executados diversos membros do partido comunista antes de 1949, durante o governo do Guomindang. O museum consiste em fotos e biografias de vááááários membros do partido comunista que foram mortos até 1949. O mas interessante do lugar é a parte dedicada ao Mao, repleta de fotos, souvenires, DVDs, CDs, livros e uma estátua para tirar foto com incenso aceso na frente, que nem as estátuas nos templos!
Bueno, e depois disso voltei para Beijing, comprei minha passagem para o Vietnã e para lá me vou dia 10. Já estou de visto pronto e com 3 milhões no bolso do dinheiro local (equivalente a uns 350 reais!). Durante esses dias que eu passei aqui entre a minha chegada de Nanjing aproveitei meu quarto novo para assistir vários filmes (inclusive o ótimo "Estômago", brasileiro), dei uma banda de bicicleta pelo centro da cidade e passei por ai com um ugandense e uma uruguaia que eu conheci no hostel em Hangzhou. Provavelmente meu próximo post seja só em setembro, quando eu voltar a Beijing.
domingo, 8 de agosto de 2010
sábado, 7 de agosto de 2010
Adendo à parte 1/3 - O borracho fardado
Certo noite em Suzhou eu e mais alguns colegas estavamos esperando o ônibus na parada quando vimos que alguém andando de moto havia se estatelado no chão do outro lado da rua. Corri para socorrer a pobre criatura e acabei ajudando um policial completamente borracho a se levantar do chão. O policial estava completamente bêbado; pediu que eu abrisse o pacote de cigarros dele porque ele próprio não conseguia. Pus a moto dele de pé e um chinês próximo se ofereceu para levar o cara para casa. O policial se recusou e me ofereceu cigarros para agradecer pela ajuda. Após e eu o resto do pessoal que tentou ajudar ele sairmos ainda pude ver o policial ir mijar nas moitas no lado da calçada, huahauhauhau. Pelo menos não o vi subir na moto de novo...
Início das férias - parte 2/3 (Hangzhou 杭州)
Depois do término do curso em Suzhou me fui para Hangzhou, a cerca de 3 horas de ônibus de distância. Ao invés dos canais a característica geográfica em destaque aqui é o Lago Oeste (西湖), que fica, dã, na parte oeste da cidade. Ao sul e ao oeste do lago há ainda montanhas repletas de pontos de interesse. Fui a cidade com uma amiga neozeolandeza descendente de chineses, mas ela só ficou 3 dias e eu 5. Não sei exatamente porque, mas acabei achando Hangzhou mais bonita do que Suzhou. Talvez como eu não passei 2 semanas lá estudando eu não tenha me acostumado, sei lá. Além do mais, o próprio Marco Pólo quando esteve por essas bandas descreveu esta cidade como uma das mais belas do mundo, quem sou eu para discordar?
A principal atração da cidade é o próprio lago e arredores, que eu circundei a pé começando de manhã e terminando de noite, subindo e descendo uma montanha ao norte (abaixo) e totalizando uns 12 quilômetros acredito eu, medido através do google maps. No centro do lago há duas ilhas que é possível visitar uma a pé e a outra de barco. Além dos barcos que levam á ilha é possível fazer algum trajeto curto de barco também.
No leste do lago está o centro da cidade, por onde eu só passei rapidamente. Já no norte sobre uma montanha está o Parque da Caverna do Dragão Amarelo (黄龙洞公园). Lá pude visitar um templo daoísta que infelizmente está sendo todo reformado, então não foi possível ver muito mais do que salões repletos de material de construção sem os adornos ou estátuas tradicionais. Pude ver inclusive algumas estátuas fora do local e sem algumas partes, como a cabeça por exemplo. Porém quando eu estava me lamentando por ter visitado o templo em má hora escuto música vinda de algum lugar. Após procurar por um curto tempo acabei encontrando a única parte do templo que ainda parece intacta, e o melhor de tudo, estava acontecendo um culto na hora! Foi a primeira vez em que eu vi um culto daoísta na vida. Uma sacerdotiza no centro do salão rezava em voz alta, cantava, andava de um lado para o outro e venerava os deuses em sua frente enquanto mais umas 7 pessoas, entre homens e mulheres, tocavam vários instrumentos e cantavam. O que era mais interessante era como as demais pessoas estavam sincronizadas com a sacerdotiza, que numa hora estava declamando e de repente começava a cantar e era imediatamente acompanhada pelos instrumentos. Só havia um fiel acompanhando o culto. Imagino que um templo pequeno e não muito famoso, em reformas no alto de uma montanha e no meio do mato não seja o lugar mais atraente do mundo pra se ir rezar... Ainda consegui tirar algumas fotos antes de um religioso que estava sentando acompanhando tudo me dizer que eu não podia fotografar, tarde demais. Na montanha também há algumas grutas transformadas em lugares de culto.
Muito interessante foi visitar os dois pagodes mais famosos da cidade, cada um com sua característica bem distinta. O primeiro e mais famoso, Pagode Leifeng (雷峰塔), fica na margem sul do Lago Oeste, possível de ver a longa distãncia à noite devido a abundante iluminação. A torre original foi construída no século 9, mas acabou caíndo no início do século 20 por falta de cuidados. Então foi reconstruída recentemente e conta com, iluminação, ar condicionado, televisores e até mesmo elevador! É, um exemplo de uma pagode do século 21 ou sei lá o que. A torre é muito bonita, seus andares estão cheios de painéis contando a história da mesma e do alto têm-se uma vista linda do lago e da cidade, mas caso se queira saber como é um verdadeiro pagode tradicional o ideal é ir ao Pagode das Seis Harmonias (六和塔), no lado sul das montanhas ao sul da cidade. Aquilo sim é que é pagode, também com uma vista linda do rio que corta a cidade ao sul, e nada de elevadorzinho para escalar os 60 metros de torre. Logo abaixo fica uma museu só sobre os pagodes na China que vale muito a pena de ver.
Também ao sul da cidade visitei o museu do chá e a vila que dá nome à variedade de chá mais famosa da China, a Vila do Poço do Dragão (龙井). Lá pude ver as enormes plantações de chá na beira das montanhas e aprender sobre o processo de preparação das folhas, como fazer o chá, todas as variedades, etc. Também pude provar gratuitamente uns chás muito bons servidos por uma funcionária muito atenciosa, que após a seção de desgustação nos levou à loja do museu para comprar chás superfaturados, lógico...
Um último destaque da cidade, creio eu, é o Templo do Esconderijo da Alma (灵隐寺), nas montanhas ao oeste do lago. A montanha abriga mais uns dois grandes templo além deste, mas nenhum tão grande. Talvez seja um dos maiores templos que eu já visitei, e repleto de gente! Na montanha também existe uma parte onde centenas de imagens budistas foram esculpidas na pedra, dentro de grutas e nos lados da montanha.
Em breve a terceira e última parte deste post, sobre Nanjing.
A principal atração da cidade é o próprio lago e arredores, que eu circundei a pé começando de manhã e terminando de noite, subindo e descendo uma montanha ao norte (abaixo) e totalizando uns 12 quilômetros acredito eu, medido através do google maps. No centro do lago há duas ilhas que é possível visitar uma a pé e a outra de barco. Além dos barcos que levam á ilha é possível fazer algum trajeto curto de barco também.
No leste do lago está o centro da cidade, por onde eu só passei rapidamente. Já no norte sobre uma montanha está o Parque da Caverna do Dragão Amarelo (黄龙洞公园). Lá pude visitar um templo daoísta que infelizmente está sendo todo reformado, então não foi possível ver muito mais do que salões repletos de material de construção sem os adornos ou estátuas tradicionais. Pude ver inclusive algumas estátuas fora do local e sem algumas partes, como a cabeça por exemplo. Porém quando eu estava me lamentando por ter visitado o templo em má hora escuto música vinda de algum lugar. Após procurar por um curto tempo acabei encontrando a única parte do templo que ainda parece intacta, e o melhor de tudo, estava acontecendo um culto na hora! Foi a primeira vez em que eu vi um culto daoísta na vida. Uma sacerdotiza no centro do salão rezava em voz alta, cantava, andava de um lado para o outro e venerava os deuses em sua frente enquanto mais umas 7 pessoas, entre homens e mulheres, tocavam vários instrumentos e cantavam. O que era mais interessante era como as demais pessoas estavam sincronizadas com a sacerdotiza, que numa hora estava declamando e de repente começava a cantar e era imediatamente acompanhada pelos instrumentos. Só havia um fiel acompanhando o culto. Imagino que um templo pequeno e não muito famoso, em reformas no alto de uma montanha e no meio do mato não seja o lugar mais atraente do mundo pra se ir rezar... Ainda consegui tirar algumas fotos antes de um religioso que estava sentando acompanhando tudo me dizer que eu não podia fotografar, tarde demais. Na montanha também há algumas grutas transformadas em lugares de culto.
Muito interessante foi visitar os dois pagodes mais famosos da cidade, cada um com sua característica bem distinta. O primeiro e mais famoso, Pagode Leifeng (雷峰塔), fica na margem sul do Lago Oeste, possível de ver a longa distãncia à noite devido a abundante iluminação. A torre original foi construída no século 9, mas acabou caíndo no início do século 20 por falta de cuidados. Então foi reconstruída recentemente e conta com, iluminação, ar condicionado, televisores e até mesmo elevador! É, um exemplo de uma pagode do século 21 ou sei lá o que. A torre é muito bonita, seus andares estão cheios de painéis contando a história da mesma e do alto têm-se uma vista linda do lago e da cidade, mas caso se queira saber como é um verdadeiro pagode tradicional o ideal é ir ao Pagode das Seis Harmonias (六和塔), no lado sul das montanhas ao sul da cidade. Aquilo sim é que é pagode, também com uma vista linda do rio que corta a cidade ao sul, e nada de elevadorzinho para escalar os 60 metros de torre. Logo abaixo fica uma museu só sobre os pagodes na China que vale muito a pena de ver.
Também ao sul da cidade visitei o museu do chá e a vila que dá nome à variedade de chá mais famosa da China, a Vila do Poço do Dragão (龙井). Lá pude ver as enormes plantações de chá na beira das montanhas e aprender sobre o processo de preparação das folhas, como fazer o chá, todas as variedades, etc. Também pude provar gratuitamente uns chás muito bons servidos por uma funcionária muito atenciosa, que após a seção de desgustação nos levou à loja do museu para comprar chás superfaturados, lógico...
Um último destaque da cidade, creio eu, é o Templo do Esconderijo da Alma (灵隐寺), nas montanhas ao oeste do lago. A montanha abriga mais uns dois grandes templo além deste, mas nenhum tão grande. Talvez seja um dos maiores templos que eu já visitei, e repleto de gente! Na montanha também existe uma parte onde centenas de imagens budistas foram esculpidas na pedra, dentro de grutas e nos lados da montanha.
Em breve a terceira e última parte deste post, sobre Nanjing.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Em breve a continuação
Estive meio ocupados no últimos dias, por isso ainda não publiquei a continuação do post. Amanhã certamente eu publico (eu espero)!
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Início das férias - parte 1/3 (Suzhou 苏州)
Iai minha gente! Andei um pouco (bastante) afastado da internet por quase um mês porque estava viajando. Mas agora cá estou eu para relatar um pouco do que aconteceu desde o último post, quase 2 meses atrás. Como o texto é grande vou dividi-lo em 3 posts. Em breve também ponho fotos no Orkut.
Minhas aulas acabaram dia 2 de julho e já no dia 4 me fui para Suzhou (苏州) para participar de um curso de verão de 2 semanas de duração. Depois visitei as cidades de Hangzhou (杭州) e Nanjing (南京) e enfim voltei para Beijing. Os últimos dias de aula foram tranquilos e angustiantes ao mesmo tempo. Tranquilos porque estava estudando bastante e não tive dificuldades com as provas. Angustiantes porque também eram os últimos dias em que eu veria a maior parte dos amigos que fiz aqui. A maior parte dos que conheci aqui são pessoas que vieram somente para estudar chinês durante um ano na China, então 95% dos meus conhecidos foram embora e eu provavelmente nunca mais vou ver a maioria deles, ô saco... Era bem deprimente ter que ficar me despedindo de gente diferente a cada dia. O bom do fim do ano letivo é que no prédio inteiro pessoas estavam se preparando para voltar de vez para seus países e jogando fora muita coisa aproveitável. Nas últimas 2 semanas antes das férias consegui coletar livros, talheres, DVDs, alguns utensílios domésticos, um suporte para galão de água (que eu queria comprar faz um tempo) e o melhor de tudo, um sistema de som para o PC, com subwoofer e tudo! Bom pra caramba! Tudo tem lado bom e lado ruim, pelo menos agora vou ter um quarto super equipado.
Bom, assim que começaram as férias me fui imediatamente para Suzhou. Lá ficamos em um hotel super bom e barato, pago em parte pela própria universidade. O curso consistia em aulas de chinês e de cultura chinesa ministradas por mestrandos em Ensino de Língua Chinesa para Estrangeiros da nossa universidade do campus de lá, era algo como um estágio para eles. É claro que em 2 semanas de curso deu para, além de estudar um pouco, conhecer a cidade, considerada uma das mais bonitas da China. Existe um ditado chinês que diz, “Acima o paraíso, abaixo Suzhou e Hangzhou” (上有天堂,下有苏杭). A cidade é considerada a “Veneza Oriental” por causa da grande quantidade de canais que cruza a cidade. Os canais servem não apenas para deixar a cidade mais charmosa, mas também para o transporte de gente e mercadorias em barcos a remo, para lavar a roupa, louça, pegar água para lavar a casa, etc. Isso é possível de ver em pleno centro. Mas o destaque mesmo das cidades são os jardins, construídos ao longo dos séculos por mercadores, políticos, burocratas aposentados, oficiais, enfim. Constituem-se de plantas, rochas, lagos, córregos, morros e construções de madeira dispostos da forma a transmitir a idéia de harmonia com a natureza. Com exceção das construções espalhadas aqui e ali, não há linhas retas ou formas simétricas e a água está sempre cheia de peixes dourados. Além dos jardins fui a templos, museus, parques e algumas aldeias no entorno. Alguns destaques:
- No museu da seda, além das peças de seda era possível ver todo o processo de fabricação do tecido, inclusive as larvas do bicho-da-seda se alimentando de folhas de amoreira.
- Fui no museu sobre Pingtan (评弹), uma forma de contar histórias que se mistura com música, e pude realmente assistir uma apresentação completa! Um homem e uma mulher se alternavam narrando uma história, interpretando personagens, tocando seus instrumentos e cantando. A apresentação durou cerca de 2 horas e não entendi quase nada porque na maior parte do tempo era utilizado o dialeto local. Mas foi uma experiência muito interessante porque além de mim, dos 2 amigos que foram comigo e mais umas 5 pessoas ali, ninguém parecia ter menos de 60 anos de idade. São pessoas que moram na vizinhança e vão ali todos os dias para ver a apresentação (e cochilar durante ela), tomar chá, fofocar e jogar conversa fora. Assistir a apresentação tomando chá e depois ter a história traduzida pelos velhos talvez tenha sido a minha experiência mais interessante em Suzhou.
- No oeste da cidade há o Morro do Tigre, no topo do qual há um pagode (torre destinada a guardar relíquias budistas, e não a música!) construído completamente em pedra. O detalhe é que ele está inclinado, igual à Torre de Pisa. Os guias fazem questão de frisar que ele foi construído antes da torre italiana.
- No entorno da cidade há várias pequenas vilas de canais extremamente lindas ainda preservando a arquitetura de séculos atrás. Fui em duas delas, Tongli (同里) e Zhouzhang (周庄). Na primeira eu estava caminhando e ao meu vinham vindo 2 moleques de uns 10 anos de idade sendo carregados em um daqueles triciclos para 2 passageiros levados por um condutor. Um deles me vê e aponta para mim:
Guri: Estrangeiro!
Eu (apontando de volta para ele): Chinês!
Os guris se olham com os olhos arregalados e o que apontou para mim vira para trás e grita: Manhêêê! O estrangeiro fala chinês!
Mãe (num triciclo atrás): Então conversa com ele ué!
O guri vira de novo para mim e fala como se nada tivesse acontecido: De onde tu é?
Então começamos a conversar sobre de onde eu era, de onde eles eram, como vieram para na cidade, etc. Muito queridinhos.
- Também nessa vila existe o Museu da Cultura Sexual Chinesa! Aparentemente o Museu foi aberto em Shanghai mas transferido para cá, talvez para chamar menos atenção. Todos os aspectos do sexo são tratados ali, mesmo os não abertamente discutidos pela conservadora sociedade chinesa, com abundância de artefatos, imagens, fotos e explicações. Muitíssimo interessante, talvez quase tanto quanto os de Amsterdam. Infelizmente não tenho nenhuma foto pelo motivo descrito abaixo.
- Na segunda vila de canais pude assistir uma apresentação de Ópera Kunqu (昆曲), uma forma de arte que mistura teatro, música, acrobacia, etc. que lembra a Ópera de Beijing mas tem suas próprias características locais.
- Um dia, após descer do ônibus do centro no fim do dia meto a mão no bolso e percebo que a máquina fotográfica que estava ali quando eu subi no ônibus sumiu... Depois descobri que um colega meu coreano também teve a carteira roubada na mesma viagem. Ônibus lotadaço + estrangeiros distraídos = ladrão feliz da vida. Ai perdi minhas fotos de antes da viagem e de vários locais que visitei em Suzhou... As fotos no Orkut são da máquina que eu comprei depois.
Minhas aulas acabaram dia 2 de julho e já no dia 4 me fui para Suzhou (苏州) para participar de um curso de verão de 2 semanas de duração. Depois visitei as cidades de Hangzhou (杭州) e Nanjing (南京) e enfim voltei para Beijing. Os últimos dias de aula foram tranquilos e angustiantes ao mesmo tempo. Tranquilos porque estava estudando bastante e não tive dificuldades com as provas. Angustiantes porque também eram os últimos dias em que eu veria a maior parte dos amigos que fiz aqui. A maior parte dos que conheci aqui são pessoas que vieram somente para estudar chinês durante um ano na China, então 95% dos meus conhecidos foram embora e eu provavelmente nunca mais vou ver a maioria deles, ô saco... Era bem deprimente ter que ficar me despedindo de gente diferente a cada dia. O bom do fim do ano letivo é que no prédio inteiro pessoas estavam se preparando para voltar de vez para seus países e jogando fora muita coisa aproveitável. Nas últimas 2 semanas antes das férias consegui coletar livros, talheres, DVDs, alguns utensílios domésticos, um suporte para galão de água (que eu queria comprar faz um tempo) e o melhor de tudo, um sistema de som para o PC, com subwoofer e tudo! Bom pra caramba! Tudo tem lado bom e lado ruim, pelo menos agora vou ter um quarto super equipado.
Bom, assim que começaram as férias me fui imediatamente para Suzhou. Lá ficamos em um hotel super bom e barato, pago em parte pela própria universidade. O curso consistia em aulas de chinês e de cultura chinesa ministradas por mestrandos em Ensino de Língua Chinesa para Estrangeiros da nossa universidade do campus de lá, era algo como um estágio para eles. É claro que em 2 semanas de curso deu para, além de estudar um pouco, conhecer a cidade, considerada uma das mais bonitas da China. Existe um ditado chinês que diz, “Acima o paraíso, abaixo Suzhou e Hangzhou” (上有天堂,下有苏杭). A cidade é considerada a “Veneza Oriental” por causa da grande quantidade de canais que cruza a cidade. Os canais servem não apenas para deixar a cidade mais charmosa, mas também para o transporte de gente e mercadorias em barcos a remo, para lavar a roupa, louça, pegar água para lavar a casa, etc. Isso é possível de ver em pleno centro. Mas o destaque mesmo das cidades são os jardins, construídos ao longo dos séculos por mercadores, políticos, burocratas aposentados, oficiais, enfim. Constituem-se de plantas, rochas, lagos, córregos, morros e construções de madeira dispostos da forma a transmitir a idéia de harmonia com a natureza. Com exceção das construções espalhadas aqui e ali, não há linhas retas ou formas simétricas e a água está sempre cheia de peixes dourados. Além dos jardins fui a templos, museus, parques e algumas aldeias no entorno. Alguns destaques:
- No museu da seda, além das peças de seda era possível ver todo o processo de fabricação do tecido, inclusive as larvas do bicho-da-seda se alimentando de folhas de amoreira.
- Fui no museu sobre Pingtan (评弹), uma forma de contar histórias que se mistura com música, e pude realmente assistir uma apresentação completa! Um homem e uma mulher se alternavam narrando uma história, interpretando personagens, tocando seus instrumentos e cantando. A apresentação durou cerca de 2 horas e não entendi quase nada porque na maior parte do tempo era utilizado o dialeto local. Mas foi uma experiência muito interessante porque além de mim, dos 2 amigos que foram comigo e mais umas 5 pessoas ali, ninguém parecia ter menos de 60 anos de idade. São pessoas que moram na vizinhança e vão ali todos os dias para ver a apresentação (e cochilar durante ela), tomar chá, fofocar e jogar conversa fora. Assistir a apresentação tomando chá e depois ter a história traduzida pelos velhos talvez tenha sido a minha experiência mais interessante em Suzhou.
- No oeste da cidade há o Morro do Tigre, no topo do qual há um pagode (torre destinada a guardar relíquias budistas, e não a música!) construído completamente em pedra. O detalhe é que ele está inclinado, igual à Torre de Pisa. Os guias fazem questão de frisar que ele foi construído antes da torre italiana.
- No entorno da cidade há várias pequenas vilas de canais extremamente lindas ainda preservando a arquitetura de séculos atrás. Fui em duas delas, Tongli (同里) e Zhouzhang (周庄). Na primeira eu estava caminhando e ao meu vinham vindo 2 moleques de uns 10 anos de idade sendo carregados em um daqueles triciclos para 2 passageiros levados por um condutor. Um deles me vê e aponta para mim:
Guri: Estrangeiro!
Eu (apontando de volta para ele): Chinês!
Os guris se olham com os olhos arregalados e o que apontou para mim vira para trás e grita: Manhêêê! O estrangeiro fala chinês!
Mãe (num triciclo atrás): Então conversa com ele ué!
O guri vira de novo para mim e fala como se nada tivesse acontecido: De onde tu é?
Então começamos a conversar sobre de onde eu era, de onde eles eram, como vieram para na cidade, etc. Muito queridinhos.
- Também nessa vila existe o Museu da Cultura Sexual Chinesa! Aparentemente o Museu foi aberto em Shanghai mas transferido para cá, talvez para chamar menos atenção. Todos os aspectos do sexo são tratados ali, mesmo os não abertamente discutidos pela conservadora sociedade chinesa, com abundância de artefatos, imagens, fotos e explicações. Muitíssimo interessante, talvez quase tanto quanto os de Amsterdam. Infelizmente não tenho nenhuma foto pelo motivo descrito abaixo.
- Na segunda vila de canais pude assistir uma apresentação de Ópera Kunqu (昆曲), uma forma de arte que mistura teatro, música, acrobacia, etc. que lembra a Ópera de Beijing mas tem suas próprias características locais.
- Um dia, após descer do ônibus do centro no fim do dia meto a mão no bolso e percebo que a máquina fotográfica que estava ali quando eu subi no ônibus sumiu... Depois descobri que um colega meu coreano também teve a carteira roubada na mesma viagem. Ônibus lotadaço + estrangeiros distraídos = ladrão feliz da vida. Ai perdi minhas fotos de antes da viagem e de vários locais que visitei em Suzhou... As fotos no Orkut são da máquina que eu comprei depois.
Assinar:
Postagens (Atom)